quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Sobrevivendo dentro do Aquário

Nunca vive aqueles anos em que meus pais não contam, sobre os anos 80. Sou de 93, Eles me falam, e lembro, de irmos de ônibus para a praia de Piedade, era fácil aquele tempo. Acordávamos cedo. Acordava antes do sol, e acordava todo mundo pra ir a praia.

Uns meses atrás meu pai falou pra minha mãe: "Antigamente não tinha tanto lixo, as garrafas eram de vidro".
Eles não tem LP, Nem toca-disco, Lembro vagamente de um aparelho de VHS que foi quebrado quando meu irmão colocou uma caneta dentro. Lembro do VHS do Rei leão e do show do Sandy & Junior.
Não falava muito, hoje também não falo. Não brincava muito, aprendi desde cedo que dar liberdade é motivo de aprontarem, não tinha a palavra bullying, não tinha muita coisa como tem hoje. Não tinha muitas vozes como tem hoje.

Mas tinha uma bicicleta, que não dividia com ninguém. Aprendi a não dividir as coisas mais valiosas vendo meu irmão dividindo e pagando o preço de perder logo depois. Minha bicicleta era preta com manchas verdes. E eu comecei a andar nas avenidas com ela sendo avisado pela minha mãe: Não vá para a pista. Mas numa tarde, desci uma ladeira, eu e meu irmão, com a bicicleta sem freio. Batemos no portão, o cachorro latiu, sem muitos arranhões, só o susto e o baque. No portão tinha uma placa: vendemos picolé ou dudu.

Podem ter muitas histórias. Eu não tinha tanto, imagino, como alguém que tinha medo de se arriscar pode contar grandes histórias? Não me importar com festas, estar longe de holofotes, ser sempre o terceiro e passar por médias. Eu escondi grandes histórias. Não vivi, melhor, vivi dentro de um aquário. Meus cachorros estão todos mortos agora.

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